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17 de março de 2011

Batalhe até o fim


Tullian Tchividjian

Existem algumas coisas pelas quais vale à pena morrer. O Evangelho está no topo da lista. Independente do que os outros possam dizer ou do que seja mais aceitável culturalmente, o Evangelho permanece como o poder de Deus para lidar com o peso, o poder e até a presença do pecado e, por isso, vale à pena entregar sua vida por e para ele.

Isso é algo muito importante a ser lembrado em um tempo em que tantos pregadores estão questionando (e até zombando) as doutrinas básicas da fé cristã, pelas quais irmãos e irmãs, por toda a história, tomaram tiros, foram queimados, perderam seus filhos, foram estuprados, decepados ou aprisionados. À luz disso, é inevitável pensar na carta de Judas:

Senti que era necessário escrever-lhes insistindo que batalhassem pela fé de uma vez por todas confiada aos santos. Pois certos homens [...] infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês [...] e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem

Perverter a graça de Deus é um negócio sério – mexer com as boas novas é, em última análise, uma notícia muito ruim.

Tanto o liberalismo como o legalismo teológico “transformam a graça de nosso Deus”. Ambos são igualmente perigosos porque ambos ignoram o evangelho. Os liberais pervertem a graça de Deus ao torná-la uma leve tolerância divina e uma recusa em julgar alguém por qualquer coisa. Os legalistas a pervertem ao manter uma postura cautelosa, até suspeita, em relação à graça – lutando pela necessidade de “mantê-la nas devidas proporções”, com uma postura de “de graça, mas…”, o que deixa no ar algumas brechas para que o moralismo continue cercando nossos corações e nossas igrejas.

Na raiz tanto do liberalismo quando do legalismo teológico está a descrença – a falha em crer no evangelho da graça de Deus em toda sua glória, radicalidade e escândalo.

Falando sobre essa falha em crer no evangelho, que inevitavelmente leva à uma falha na pregação, B. B. Warfield nos exorta com urgência e clareza:

Quando nós realmente cremos no Evangelho da Graça de Deus – quando realmente acreditamos que é o poder de Deus para a salvação, o único poder para salvação nesse nosso mundo caído – é comparavelmente mais fácil pregá-lo, pregá-lo e sua pureza, mesmo em face desse mundo zombeteiro, truculento e homicida. O segredo é… creia no Evangelho, e você sera capaz de pregá-lo. Deixe os homens falarem o que quiserem, e fazerem o que quiserem – deixe que critiquem, ridicularizem, persigam e ataquem – creia no Evangelho e você será capaz de pregá-lo.

Os homens costumam falar de de alguns elementos do Evangelho: “Eu não consigo pregar isso”. Algumas vezes, eles querem dizer que o mundo não vai aceitar isso ou aqui. Algumas vezes, querem dizer que o mundo não vai receber bem isso ou aqui. Algumas vezes, que eles não podem pregar isso ou aquilo para conquistar o respeito ou a simpatia ou a aceitação do mundo. O Evangelho não pode ser pregado? Não pode? Ele poderá, se você crer nele. Aqui está a raiz da sua dificuldade. Você não crê completamente no Evangelho! Creia! Creia no Evangelho e ele vai ser pregado automaticamente!

Deus não nos enviou ao mundo para falar sobre as coisas mais plausíveis que imaginarmos; para tocar os homens com aquilo que eles já acreditam. Ele nos enviou para pregar verdades impalatáveis a um mundo perdido no pecado; verdades aparentemente absurdas para os homens, orgulhosos de seu intelecto; verdades misteriosas para homens carnais que não são capazes de recever as coisas do Espírito de Deus. Devemos nos desesperar? Certamente, se dependesse de nós não só o plantar e regar como também o crescimento. Certamente que não, se dependermos e apelarmos ao Espírito Santo.

Mas deixe que Ele mova em nossos corações para que creiamos nessas verdades; quando crermos, poderemos falar. Deixe também que Ele mova nos corações de nossos ouvintes para que creiam naquilo que Ele mesmo nos levou a falar. Não podemos proclamar para o mundo que ele está ardendo em fogo – é algo desagradável de dizer, principalmente na presença daqueles cujo interesse é justamente não acreditar nisso? Creia, e rapidamente você será levado à proclamação da verdade impalatável! Então creia e afirmemos todos que o mundo está perdido em seu pecado, e indo cada vez mais ao encontro da danação eterna; que em Cristo somente há redenção; e que somente pelo Espírito os homens podem receber a redenção. Que importa se formos impalatáveis, se falamos a verdade? E se falamos da verdade, falemos com urgência.

Cristão, creia no Evangelho… e então pregue-o! Você pode ser perseguido, perder sua vida, sua reputação e “relevância”, mas o Evangelho sempre será o poder de Deus para libertar os cativos. Não se esqueça disso. Não ignore isso. Vale à pena morrer por isso.

Traduzido por Filipe Schulz

Fonte: iPródigo.com

14 de março de 2011

Catástofre no Japão - Uma Oração





O poder do movimento das águas é maior do que a maioria de nós pode imaginar. Nada pode permanecer diante disto. Nós somos levados a nos ajoelhar.

Pai que está nos céus, o Senhor é o Soberano absoluto sobre o tremores da Terra, o levantar das águas, e a fúria das ondas. Nós trememos diante de Seu poder e curvamos diante de Seus inescrutáveis julgamentos e incompreensíveis caminhos. Nós cobrimos a nossa face e beijamos a sua onipotente mão. Nós caímos perdidos (desamparados) ao chão em oração e sentimos quão frágil é o solo abaixo de nossos joelhos.

Ó Deus, nos humilhamos debaixo de sua santa majestade e nos arrependemos. Em um momento – num piscar de olhos – nós também poderíamos ser varridos. Nós não somos mais merecedores de um chão firme do que os nossos semelhantes no Japão. Nós também somos carne. Nós temos corpos, casas, carros e nossa famílias em preciosos lugares. Nós sabemos que se formos tratados segundo os nossos pecados, quem poderia suportar? Tudo seria levado em um minuto. Então, nesta hora sombria nos voltamos contra o nosso pecado e não contra o Senhor.

E clamamos por misericórdia pelo Japão. Misericórdia, Pai. Não pelo o que nós ou eles merecemos. Mas misericórdia.

Não teria o Senhor nos encorajado a isso? Não teríamos nós ouvido um milhão de vezes em Sua palavra as riquezas de sua bondade, tolerância, e paciência? O Senhor não segurou o seu julgamento inumeráveis vezes, levando o seu mundo rebelde ao arrependimento? Sim meu Senhor, pois os seus caminhos não são os nosso caminhos, e seus pensamentos não os nosso pensamentos.

Conceda ó Deus, que o perverso abandone o seu caminho, e o injusto os seus pensamentos. Conceda-nos, suas criaturas pecadoras, para retornarem ao Senhor, que o Senhor tenha compaixão. Pois certamente o Senhor abundantemente perdoará. Qualquer um que chamar pelo nome do Senhor Jesus, seu amado filho, será salvo.

Que cada coração machucado por suas perdas – milhares sobre milhares de perdas – sejam curados pelas mãos feridas do Cristo ressurreto. O Senhor não desconhece as dores de suas criaturas. O Senhor não poupou seu único Filho, mas o entregou por amor de nós.

Em Jesus, o Senhor provou a perda. Em Jesus, o Senhor partilhou o esmagador dilúvio das nossas dores e sofrimentos. Em Jesus, o Senhor é o sacerdote que se importa em meio a nossa dor.

Haja gentilmente agora, Pai, com este povo frágil, ganhe-os Pai, salve-os.

E que as inundações que eles tanto temem façam bênçãos caírem sobre suas cabeças.

Que ele possam não julgá-Lo com seus fracos sentidos, mas confiar em sua graça. E então por trás desta providência, rapidamente achar uma face sorrindo.

No nome misericordioso de Jesus, Amém.

John Piper


Fonte: Voltemos ao Evangelho


7 de março de 2011

Uma parábola sobre o papel da igreja durante o carnaval














Por Hermes Fernandes



Epêneto era o presbítero responsável pela igreja em Roma, desde que Priscila e Áquila tiveram que deixar a cidade em busca de novos campos missionários. Epêneto foi um dos primeiros a se converterem através do trabalho realizado por Paulo nessa cidade.

Aquela igreja era muito ativa, sempre aberta a acolher as pessoas. Quando havia algum cataclismo, fome ou guerra, os cristãos se mobilizavam para socorrer as vítimas. Por causa de seu envolvimento com a dor humana, ganhou a simpatia de todos, inclusive de funcionários do palácio de César.

Num belo dia, ouviu-se o clangor do clarim. Todos se reuniram para ouvir o que o mensageiro do império tinha para anunciar. Em duas semanas, o exército romano estaria chegando de uma campanha militar bem-sucedida. O próprio César o receberia com uma Parada Triunfal, que seria seguida de um feriado prolongado dedicado aos deuses Marte e Saturno, também conhecidos como Apolo e Baco, divindades da guerra e do vinho, respectivamente. Seria uma grande festa, regada a bebidas alcoólicas e todo tipo de luxúria. A população sairia às ruas para assistir ao desfile das tropas romanas, dando-lhes boas-vindas, e assistiriam à execução de milhares de prisioneiros. Ninguém trabalharia naqueles dias.

Epêneto ficou preocupado com a notícia. Qual deveria ser o papel da igreja durante essa festa pagã? Ainda inexperiente como líder, reuniu alguns dos mais antigos membros da igreja para discutir o que fazer.

Um deles, chamado Narciso, pediu a palavra e deu sua sugestão:

- Amados no Senhor, por que não aproveitamos o ensejo para promover um desfile paralelo, onde demonstraremos ao mundo a nossa força, revelando a todos nossa lealdade ao Rei dos reis, Jesus Cristo? Podemos até copiar algumas de suas canções, adaptando-as à nossa fé. Em vez de exibirmos prisioneiros, exibiremos testemunhos daqueles que foram salvos. Vamos montar nosso próprio bloco, quer dizer, nossa própria parada triunfal. Pode ser uma grande oportunidade evangelística.

Epêneto, depois de algum tempo pensativo, respondeu: Caro Narciso, a idéia parece muito boa. Porém, quem ouviria nossa voz durante os momentos de folia? Nosso modesto bloco se perderia no meio de toda aquela devassidão. Ademais, a maioria das pessoas estará embriagada, incapaz de entender nossa mensagem. Também não estamos preocupados em dar uma demonstração de força. Jesus disse que nosso papel no mundo seria semelhante à de uma pitada de fermento, que de maneira discreta, sem chamar a atenção para si, vai levedando aos poucos toda a massa. Por isso, acho que sua idéia não é pertinente. Quem sabe em gerações futuras, haja quem a aproveite?

Levantou-se então Andrônico, que gozava de muito prestígio por ser parente de Paulo, e sugeriu:

- Amados, durante o Desfile Triunfal e as Saturnais, a situação espiritual da cidade ficará insuportável. Divindades pagãs serão invocadas, orgias serão promovidas em lugares públicos à luz do dia. Não convém que estejamos aqui durante essa festa da carne. A melhor coisa a fazer é nos retirarmos, buscarmos um refúgio fora da cidade, e aproveitamos esse tempo para nos congratularmos, sem nos expormos desnecessariamente às tentações da carne.

Todos acenaram com a cabeça, demonstrando terem gostado da idéia. Já que seria mesmo feriado, ninguém precisaria trabalhar. Um retiro parecia a melhor sugestão.

O velho presbítero ficou um tempo em silêncio, meditando. Todos estavam atônitos esperando sua palavra, quando mansamente respondeu:

- Irmãos, não nos esqueçamos de que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se no momento de maior trevas nos retirarmos, o que será desta cidade? Por que a entregaríamos ao controle das hostes espirituais das trevas? Definitivamente, nosso lugar é aqui. Não Precisamos de exposição, como sugeriu nosso irmão Narciso, nem de fazer oposição à festa, retirando-nos da cidade, como sugeriu Andrônico. O que precisamos é estar à disposição para acolher aos necessitados, às vítimas da violência, aos desassistidos, aos marginalizados. A propósito, não temos estado sempre disponíveis para atender as pessoas durante as tragédias que tem abatido o império? E o que seriam tais desfiles, senão tragédias morais e espirituais? Saiamos às ruas, mesmo sem participar da folia, e estendamo-los as mãos, em vez de apontar-lhes o dedo, oferecendo compaixão em vez de acusação, amor em vez de apatia. Que as casas que usamos para nos reunir estejam de portas abertas para receber quem quer que seja, e assim, revelaremos ao mundo Aquele a quem amamos e servimos. Afinal, o reino de Deus se manifesta sem alarde, sem confetes, sem barulho, mas perturbadoramente discreto.

Depois dessas sábias palavras, ninguém mais se atreveu a dar qualquer outra sugestão.


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Fonte: Púlpito Cristão