Pages

12 de outubro de 2009

Um Fio de Esperança!!!!

Por: Eleny Vassão de Paula Aitken

Recorrer à mensagem do livro de Jó pode ajudar em redefinir as perspectivas de vida após as esperanças desmoronarem.

"Eu pensava assim: 'Viverei uma vida longa e morrerei em casa, com todo o conforto [...]. Todos só falarão bem de mim e eu serei sempre vigoroso e forte. Eu sorria para aqueles que tinham perdido a esperança; o meu rosto alegre lhes dava coragem [...] e os consolava nas horas de aflição."
(Jó 29:18-20,24,25)
Vivemos pensando que o sofrimento só alcança a casa do vizinho. É como se nós, que conhecemos ao Senhor, estivéssemos imunizados contra o mal por nossa fé, por uma capa protetora de nossa vida de justiça, crendo que nada atingirá a nós ou aos nossos filhos.

Mas a vida não é assim. Mesmo que isso nos agrade e nos ofereça certa segurança, a Bíblia não prega tal mensagem falsa. O sofrimento faz parte da vida e, dependendo da maneira como o encaramos, ele pode nos abater, deixando-nos amargurados e sem fé, ou nos forjar no cadinho das aflições, fazendo-nos fortes e maduros, mais semelhantes a Jesus.

Jó, reconhecido por Deus como o homem mais justo da terra, pensava ser alguém imune à dor, até que o mal lhe sobreveio. Diante de sua experiência, temos que nos perguntar: "Qual seria a minha reação se fosse comigo? O que eu faria se voltasse para casa no fim do dia e descobrisse que ela não existe mais?"

Nancy Guthrie, autora do livro Um fio de esperança, tinha uma vida estável, feliz, na qual tudo corria bem. Ao estudar o livro de Jó na Escola Dominical, encantava-se com a sua vida e a reação que ele teve à dor e à perda. Passou, então, a questionar-se: "Será que eu reagiria da mesma forma a uma tragédia?" Ela mesma conta: "Também me questionei se eu possuía o tipo de fé capaz de suportar aflição extrema e imerecida, uma fé que persiste mesmo quando não há mais nenhuma esperança".

Seu questionamento tornou-se real e prático quando Hope, sua segunda filha, nasceu: "Depois do parto, os médicos começaram a encontrar algumas 'pequenas' anomalias em nossa filha. Aturdidos, mal ouvimos a última informação: a maioria dos bebês com essa síndrome vive menos de seis meses. Não há tratamento, não há cura, não há sobreviventes".

Transtornada, Nancy lembrou-se de sua admiração pela reação de Jó e viu que sua fé estava sendo testada.

Jó nos mostra como uma pessoa de fé reage quando seu mundo desaba. Hope veio a falecer depois de poucos meses e uma nova prova se apresentou: "Será que a nossa fé em Deus nos ajudará a sofrer menos? Sem dúvida, ela nos deu força e ânimo extraordinários enquanto estávamos com Hope. E é um consolo saber que ela está no céu. Graças a essa fé, não somos consumidos pelo desespero, mas a fé não torna o sofrimento menos intenso".

"É por isso que me espanto quando penso na história de Jó. Sua reação inicial à perda vai além da agonia e da lamentação. Diante da calamidade que lhe sobreveio, Jó se prostrou diante de Deus em adoração [...]. Somente uma pessoa que compreendia a grandeza de Deus poderia tê-lo adorado em meio a tanta dor."

Chorar junto é consolar
Trabalhando há vinte e cinco anos no ministério de Capelania Hospitalar, deparamo-nos diariamente com o sofrimento, em seus mais variados estágios. Ao ver a dor em nossos pacientes e em seus familiares, como a autora deste livro, somos lembrados que, mesmo sendo crentes em Cristo Jesus, temos corpos frágeis como o dos demais mortais e passamos a nos questionar sobre como enfrentaremos o dia mau, quando ele nos alcançar.

Dar ouvidos e orar pelos nossos enfermos hospitalizados, oferecendo-lhes conforto e esperança na Palavra de Deus, é uma coisa. Mas eles estão cansados de ouvir pregações. Querem mesmo é saber se esse Deus é real e se ele tem agido de maneira confortadora em nossos momentos de sofrimento. Nossas vidas, atitudes e reações têm de falar mais alto.

Temos, muitas vezes, grande dificuldade em consolar. De maneira distante e impessoal, até mesmo rude, questionamos: Por que chorar? Você não sabe que ele já está no céu, muito melhor do que nós? Por que esta cara triste? Você não tem fé?

É interessante perceber, na Bíblia, que o próprio Jesus chorou diante de seu amigo Lázaro, mesmo sabendo que tinha todo o poder para ressuscitá-lo dentre os mortos. Ele se identificou com o sofrimento humano, compartilhou da dor daqueles que estavam passando pela perda. Em Jesus temos o nosso modelo. Mas como podemos confortar de maneira prática?

Em Um fio de esperança, Nancy comenta: "Na verdade, quem chora conosco nos mostra que não estamos sozinhos. Muitas vezes, sinto como se estivesse carregando um grande peso e, quando outros choram comigo, é como se carregassem parte dele. Talvez essa seja a coisa mais importante que alguém pode fazer por mim".

Consolar é, também, encontrar maneiras palpáveis e úteis para socorrer aqueles que estão atravessando o Vale de Baca.

A autora continua: "Felizmente, não me vi cercada por um bando de consoladores incompetentes. Pelo contrário, fui abençoada com várias pessoas que não apenas tinham palavras certas de consolo, mas também demonstraram seu carinho de formas criativas. Nossa amiga Joana fez de tudo para que o arranjo de flores sobre o caixão de Hope ficasse perfeito. Jan nos levou para fazer um cruzeiro em seu barco. Lori me escutou e abraçou enquanto eu chorava, depois de tirar o bebê-conforto de Hope do carro pela última vez. Mary Grace agendava os horários para as pessoas virem nos visitar. Mary Bess cuidou das refeições durante todo o tempo que ficamos com nosso bebê e meses depois que ela morreu".

Ao ver uma jovem senhora chegando à nossa "Casa do Aconchego", projeto especial em extensão ao ministério de Capelania Hospitalar, perguntei-me o que poderíamos oferecer-lhe em atos de conforto.

Olhos vermelhos e inchados, pés arrastando no chão, a esperança se fora. De nada lhe adiantara tanto desgaste por dias e noites no hospital, ao lado do berço de seu filho, dormindo em uma cadeira dura e desconfortável, enquanto seu coração chorava de tristeza ao ver a piora da saúde do pequeno. Ao seu redor, outras mães cuidavam de seus filhos. Se um deles melhorava, muitas vezes sua mãe nem tinha com quem compartilhar sua alegria, com medo de agredir a tristeza da outra.

Esgotada, a jovem Maria procurava uma de nossas capelãs que a acompanhara mais de perto durante a internação de seu filho. "Ela me disse que, se eu precisasse, poderia encontrar descanso aqui. Meu filhinho acabou de morrer e eu só preciso de uma cama para descansar um pouco. Daqui a uma hora terei que voltar ao hospital para preencher os papéis e buscar suas roupinhas".

Naquele momento, confortar Maria era oferecer-lhe um lugar de descanso e intimidade, onde poderia chorar sem ser recriminada, encontrando ombros e ouvidos amigos que, sem palavras, lhe falavam que o Senhor a amava, como também a seu pequeno, e que estaria ao seu lado, sustentando-a com a Sua mão fiel.

Conviver com o sofrimento é aprender a reconhecer os propósitos do Senhor, Sua soberania e poder, deixando-o lapidar nossas vidas e nos tornar mais sensíveis e dependentes, cada vez mais semelhantes a Jesus.

Fonte: Mundo Cristão

Nenhum comentário:

Postar um comentário