No último fim de semana, passei algum tempo refletindo sobre um par de livros (aparentemente) aleatório: Cristianismo sem Cristo, de Michael Horton, e Celebrando uma vida com propósitos: a história fascinante da data mais importante do ano (no original, The Purpose of Christmas – O propósito do Natal), de Rick Warren. Eles são, de muitas formas, livros que tratam a mesma questão por ângulos opostos.
Por todo seu livro, Horton enfatiza a importância e a transcendência da mensagem do evangelho – a pura e imaculada simplicidade do evangelho. Warren, por outro lado, obscurece a mensagem ao falar de propósitos e generalizações apressadas sobre a natureza do relacionamento de alguém com Deus (contudo, ainda bem, o cerne da mensagem do evangelho está presente, apesar do obscurecimento). Nos últimos dias tenho refletido muito sobre a mensagem do evangelho e me perguntado o porquê dessa mensagem ser tão impopular mesmo nas igrejas cristãs e entre os autores cristãos. Por que um escritor ou um pastor buscariam abrandar essa mensagem?
Penso que esse mistério não é muito grande. Os incrédulos odeiam a mensagem do evangelho porque ela insiste em coisas que são verdade sobre eles e eles simplesmente não querem acreditar nisso. O evangelho insiste em coisas que são verdadeiras e eles são incapazes de crer nele. A mensagem do evangelho nos diz que somos pecadores. Muitas pessoas conseguem entender essa informação; somente alguém incrivelmente desonesto e delirante poderia fingir que nunca fez nada de errado. A mensagem do evangelho nos diz que, em última análise, não pecamos contra os outros ou contra nós mesmos, mas contra Deus. Isso é mais difícil de digerir. Poucos de nós nos importamos com o pensamento de que pecamos contra o Criador do universo. O evangelho continua e nos diz que nosso pecado contra Deus o ofendeu e o encheu de ira contra nós. Menos pessoas ainda conseguem digerir e aceitar essa informação. Pouquíssimas pessoas conseguem acreditar que Deus é justificado em sua ira perante aqueles que transgridem as suas leis. Mas o evangelho atinge o ponto máximo da ofensa quando nos diz que somos completamente incapazes de fazer qualquer coisa a respeito disso tudo. Nenhuma de nossas ações, por mais nobres e boas que sejam, são capazes de diminuir uma lasca do débito que temos com Deus. Mais ainda, nenhum de nós buscaria qualquer tipo de reconciliação com Deus se não fosse pela ação proativa dele em nossos corações. Nós todos, do fundo do nosso coração, odiamos Deus. Sem a graça de Deus, não temos qualquer esperança.
Isso é uma notícia muito ruim. E é por isso que tantas igrejas buscam amenizar essas notícias. É melhor, pensam elas, receber as muitas pessoas que aceitarão uma mensagem mais branda do que as poucas que aceitarão uma mensagem tão dura. Então elas alteram a mensagem, aparando algumas arestas. Sim, nós pecamos, mas vamos ver isso apenas como fazer algo de errado ou cometer um erro. E apesar de Deus estar ciente desses erros, ele está disposto a deixar passar esse tipo de ofensa. Que tipo de Pai ele seria, afinal, se insistisse que devemos enfrentar a condenação eterna por alguns errinhos? Assim, a mensagem é diluída até se tornar um mingau para bebês, ralo e sem gosto. Após anunciar essas notícias não tão ruins, esses pastores e escritores oferecem as boas novas. Se você se voltar para Deus, você terá a sua melhor vida possível agora. Ele vai te abençoar ricamente, te dando todas as coisas que você quer e precisa. Ele vai fazer a sua vida melhor e a promessa de uma recompensa no céu, onde você estará novamente com as pessoas e as coisas que eram tão queridas aqui na terra.
Há, é claro, uma relação direta entre a fraqueza das más notícias com a fraqueza das boas notícias. Quanto mais fracas as más notícias, mais fraca será a comparação com as más notícias. Quanto pior o pior, melhor o melhor (e eu peço desculpas aos meus professores de Gramática por essa frase)! Quando entendemos – realmente entendemos – a precariedade da nossa posição; quando entendemos o quanto ofendemos a Deus e o quanto nós merecemos justamente a sua ira, as boas novas se tornam muito mais agradáveis. Vai-se a visão antropocêntrica dos benefícios da salvação e em seu lugar surge um entendimento de que o maior benefício da salvação é o próprio Cristo! Rick Warren apresenta os benefícios da reconciliação com Deus primariamente em termos de benefícios pessoais. “Envoltos por Jesus estão todos os benefícios e bênçãos citados nesse livro – e muito mais! Em Jesus, seu passado é perdoado, você recebe um motivo para viver e ganha um lar no céu.” Todas essas coisas são maravilhosas, mas elas nem se comparam ao próprio Cristo. John Piper diz muito bem sobre isso. “A questão crítica da nossa geração – e de qualquer geração – é essa: Se você pudesse ir para o céu, um lugar sem doenças, com todos os seus amigos que você tinha na terra, toda a comida que você gostava, todas as atividades de lazer que você gostava, todas as belezas naturais que você já viu, todos os prazeres físicos que você já experimentou e nenhum conflito humano ou desastre natural, você seria feliz nesse céu, se Cristo não estivesse lá?”.
Boas notícias só são boas em relação ao que é ruim. Se nós amenizamos as más notícias, necessariamente estamos amenizando as boas notícias. Nosso dever não é analisar as notícias as quais somos chamados para anunciar ao mundo. Fidelidade a Deus requer fidelidade à mensagem – à mensagem completa. Não ousemos amenizar as más notícias; não ousemos amenizar o escândalo da cruz. Pelo contrário, preguemos a mensagem fiel e completamente, deixando as pessoas verem primeiro a profundidade do seu débito para com Deus, e então o inestimável valor e beleza de Cristo.
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