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14 de fevereiro de 2011

Declarações de amor para Deus

Bob Kauflin

Alguém criou a expressão “músicas ‘Deus é minha namorada’” para descrever as letras contemporâneas que expressam o amor a Deus com palavras que, por natureza, são românticas. Elas incluem frases como “abraça-me”, “deixe-me sentir seu toque”, etc. Embora essa não seja a primeira vez na história em que cânticos congregacionais foram rotulados como sensuais (John Wesley tinha alguns problemas com as letras de Charles Wesley, às vezes), essa é uma questão que ainda precisa de esclarecimento.

Por que alguém escreve músicas que podem ser cantadas tanto para Deus quanto para um amante humano? As razões variam. Talvez o compositor seja simplesmente um péssimo letrista que não conhece nada melhor. Pode ser uma tentativa de alargar os limites do lirismo poético. Também poderia ser uma tentativa de escrever canções “intercambiáveis” que são aplicáveis a contextos cristãos ou seculares. O problema é que nosso relacionamento com Deus é um pouco diferente (você poderia dizer infinitamente?) de nossos relacionamentos com os outros.

Outro grupo baseia seu uso do imaginário romântico em Cântico dos Cânticos – “Deixe-me conhecer os beijos de tua boca, deixe-me sentir teu abraço”¹. Entretanto, não há qualquer indicação fora de Cantares de que Deus deseja que cantássemos individualmente palavras como essas a nosso Deus e Salvador. (Para uma interpretação mais literal de Cântico dos Cânticos como uma celebração do romance matrimonial, sugiro que você leia Sexo, Romance e a Glória de Deus, de C.J. Mahaney).

Fiquei feliz de pegar a última edição da revista Worship Leader e descobrir que Matt Redman tratou esse mesmo tópico em um artigo chamado “Beije-me?”. Ele procurar responder a pergunta: “figuras românticas são apropriadas para as expressões congregacionais de adoração?”.

Como esperado, os pensamentos de Matt são humildes, claros, uteis e, mais importante, bíblicos. Ele compartilha a experiência de escutar o um CD de músicas de louvor próximo a um não-cristão.

Outro dia estava ouvindo um disco de louvor (que não identificarei!) bem alto – dentro do alcance do homem que limpa minhas janelas. Achei que talvez fizesse algum bem para ele ouvir algumas músicas de adoração. O que não percebi é que uma das músicas continha uma sequência de letras que pareciam românticas. Ao procurar o mais rápido possível o botão de pausa, percebi algo. Eu não estava com vergonha de Jesus, mas não estava nem um por cento convencido da maneira como, alguma vezes, nos aproximamos dEle. William Barclay tem uma opinião bem forte sobre isso: “o Novo Testamento jamais corre o menor risco de sentimentalizar a ideia de Deus”².

O potencial para o evangelismo o encorajou até que surgiu uma música com uma sequência de letras românticas. Ao pausar a música, Matt percebeu: “eu não estava com vergonha de Jesus, mas não estava nem um por cento convencido da maneira como nos aproximamos dEle”. Em seguida, ele acrescenta: “Algumas vezes, dentro das paredes da igreja, caímos no hábito de dizer ou fazer coisas que nunca faríamos se estivéssemos realmente em contato com o mundo. E, na verdade, isso é apenas um ponto secundário. O principal é se estamos ou não escrevendo e escolhendo músicas que são um eco verdadeiro do padrão da Escritura”.

Como a maioria das coisas, discernimento é mais sábio que simplesmente banir o uso de certas palavras como “belo” ou “abraçar”. Entretanto, cantar ou escrever palavras a Deus porque elas “expressam meus sentimentos” mostra-se um padrão ilusório. Deus importa-se com as palavras que usamos quando nos aproximamos dEle, e nossas palavras devem ser “um eco verdadeiro do padrão da Escritura”. Relacionamos-nos com Deus da maneira que Ele se revelou a nós ou de uma maneira que nossa cultura acha confortável? Nossas músicas descrevem Deus como Ele é ou procuram fazê-lo mais parecido conosco?

Encontramos o equilíbrio entre transcendência e imanência em Isaías 54.5: Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”. Esse verso nos mostra que, em nosso desejo de celebrar como Deus nos trouxe para perto por meio da cruz, nunca podemos nos esquecer de que Ele continua exaltado acima de toda criação. Ele não é nossa namorada; Ele é nosso Deus. Nossas canções nunca deveriam ser vagas sobre essa diferença. Como Matt nos lembra, “precisamos constantemente refletir nas maneiras em que nos dirigimos a nosso maravilhoso Deus”. Porque Ele realmente é maravilhoso.

¹ Música do compositor David Ruis. No original, “Let me know the kisses of your mouth, let me feel your embrace.”
² Esse trecho do Matt Redman não estava na versão original do texto de Bob Kauflin (por isso há até uma certa repetição nesse post). Incluí aqui para entendermos melhor o contexto da situação narrada. Você pode ler o artigo de Matt (em inglês) aqui.

Traduzido por Josaías Jr. / Fonte: iPródigo

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